Sementes de maconha reivindicam seu lugar nas cozinhas australianas


As sementes de maconha, ingrediente de produtos comercializados em todo o mundo, reivindicam seu lugar nas cozinhas da Austrália como um alimento nutritivo. Nos Estados Unidos, no Canadá e em países da União Europeia, são produzidos alimentos à base da semente de cânhamo (que tem "cannabis sativa" como nome científico), como barras de cereais, farinha, óleos e queijos vegetarianos. Porém, na Austrália, este produto "é estigmatizado", declarou à Agência Efe Andrew Katelaris, o promotor da iniciativa para legalizar o uso na culinária.

A Austrália comercializa o cânhamo em forma de cosméticos, fibras e alimentos para animais, mas uma coisa é oferecê-lo a cães e gatos, outra é permitir que cidadãos possam incorporá-lo a sua dieta diária.

Seus defensores argumentam que o governo ignora as propriedades nutritivas do cânhamo, porque "teme" a propagação dos cultivos desta planta por todo o país e acrescentam que cerca seis milhões de pessoas, mais de 30% da população, consumiram maconha em algum momento de sua vida.

Katelaris, médico e pesquisador, apontou que as sementes, ao contrário das flores, folhas e talos, têm baixa concentração de delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), a substância psicoactiva do cannabis. Além disso, contêm proteínas, gorduras poliinsaturadas, como o Ômega 3, vitaminas, como a E, e contribuem para "desenvolver o cérebro e prevenir a demência", revelou Katelaris.

Apesar da resistência que a iniciativa encontrou entre as autoridades do país, os australianos consomem cannabis desde que foi introduzido pelos britânicos, no século 19. A planta, que segundo algumas pesquisas aumenta o risco de esquizofrenia e depressão, é ilegal na Austrália, mas a posse em pequenas quantidades e o cultivo de um número limitado de pés para uso pessoal foram descriminalizados em alguns estados e territórios do país na década passada.

Bob Carr, governador de Nova Gales do Sul entre 1995 e 2005, defendeu no Parlamento regional um projeto para legalizar o consumo de maconha para fins terapêuticos, uma proposta apoiada por Katelaris, mas que não progrediu.

A agência de segurança alimentar da Austrália e Nova Zelândia (FSANZ, na sigla em inglês) avalia, desde o ano passado, a solicitação de Katelaris para legalizar o uso de sementes de cânhamo para consumo.

Por enquanto, o órgão regulador concluiu que os alimentos elaborados à base de sementes de maconha "não representam um risco para a saúde" e "podem ser uma alternativa dietética útil".

Atualmente, a FSANZ submete a iniciativa à consulta popular como passo prévio aos debates que serão realizados nos governos dos diferentes estados e territórios do país.

Um dos desafios é a implantação de um sistema de controle para verificar se as sementes têm baixos níveis de THC, assim como a emissão de licenças para o desenvolvimento desta indústria de alimentos, explicou a porta-voz da FSANZ, Lydia Buchtmann, que assinalou que a decisão deve ser anunciada até o final do ano.

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