"Me olhavam como se fosse maconheiro" Fernando Grostein, diretor de 'Quebrando o Tabu'


Me olhavam como se fosse maconheiro disse Fernando Grostein, diretor de Quebrando o TabuFernando Grostein Andrade, diretor de Quebrando o Tabu, contou como foi a reação das pessoas ao ter a ideia de fazer o documentário. "Me olhavam como se eu fosse maconheiro, sem-vergonha", disse, em entrevista nesta segunda-feira (26) no estúdio do portal. A segunda produção da carreira de Grostein tem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como âncora de um debate sobre drogas, em especial a maconha.

"Experimentei maconha aos 13 anos. Não aconteceu nada. Usei várias vezes na adolescência e não tenho vergonha de dizer. Isso nunca me impediu de trabalhar, trabalho desde os 15 anos", admitiu ele. Porém, o diretor afirmou que depois de um tempo optou por parar: "ficou chato fumar maconha. Eu percebi isso sozinho".

Durante o bate-papo, Grostein fez questão de explicar que não está falando em liberação das drogas. "Descriminalizar quer dizer deixar de ser crime, fazer com que o doente e o usuário não sejam tratados como doentes. Quando se fala em regulamentar, você cria regras e limites para esse comércio. O álcool não pode ser vendido para menores de idade, o cigarro não pode ter propaganda. Eu não consigo imaginar uma pessoa que pense em liberação."

A ideia de produzir Quebrando o Tabu começou há 10 anos, quando Grostein filmou um clipe no qual precisou passar noites nas favelas. Tal experiência mudou sua opinião em relação às drogas e aos traficantes. "Tinha imagem do traficante como um grande vilão. Cheguei lá e vi jovens explorados pelo tráfico. Crianças estavam com oportunidades castradas", relatou.

Na hora de formar o elenco, Fernando disse que achou o ex-presidente FHC a pessoa certa para ser o âncora, devido ao fato de ele não usar a repressão como o único instrumento. "Achei ele a pessoa certa. Não foi fácil chegar nele. De imediato, o FHC topou, principalmente pelo alto preço que se paga por manter uma política equivocada".

Tratada como tema principal do documentário, a descriminalização de drogas é discutida por políticos e personalidades, que falam sobre as falhas no combate ao tráfico e contam experiências pessoais. Entre os participantes estão os ex-presidentes dos Estados Unidos Bill Clinton e Jimmy Carter, o médico Drauzio Varella e o escritor Paulo Coelho.

O acesso aos políticos internacionais foi conquistado com a ajuda de Fernando Henrique Cardoso. "Ele abriu as portas. Não é fácil alguém pegar o telefone e dizer: você fala sobre um tema difícil por mim?". Os depoimentos de Quebrando o Tabu foram filmados em lugares como Holanda, Suíça, Estados Unidos, Portugal e favelas do Rio de Janeiro. Foram dois anos de gravação, em 18 cidades pelo mundo.

Na opinião de Grostein, há um certo preconceito em relação às pessoas que fumam maconha, pois acham que os usuários são doentes. Ele citou pesquisas que apontam que a maconha causa menos mal que o álcool e o tabaco. "O pai tem que entender que o filho com o baseado é completamente diferente do filho fumando um cachimbo de crack. Cada substância é de um jeito, a frequência que o cara usa a droga também define."

O diretor falou também a respeito de uma pesquisa que sua equipe fez para identificar a melhor estratégia de abordar o tema. De acordo com ele, os evangélicos foram os que mais gostaram do filme, por quererem tirar as pessoas das drogas, e a melhor forma para isso seria levantar o assunto.

Fernando Grostein Andrade salientou a importância de as pessoas verem o longa para que acabe a tragédia, segundo ele, que o mundo está por causa dos problemas relacionados às drogas, que além da saúde entram no setor de segurança, tráfico, entre outros. "Se a pessoa tem um espaço para usar droga onde tenha ajuda, o risco de acontecer algo é quase zero", afirmou.

Verba e produção
Na captação de recursos para a produção do filme, Fernando disse que foi difícil e que as empresas tinham "um pé atrás". "Deixamos claro que estávamos buscando alternativas para o dano que a droga causa na pessoa e na sociedade. Tínhamos dois ícones do Brasil, o Fernando Henrique e o Luciano Huck, meu irmão, e isso deu uma segurança para as empresas entrarem no projeto. Bancos, montadoras e grupos de comunicação entrarem nisso é uma prova de que o tabu está sendo quebrado."
 
Fonte: Terra

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