Maconheiros: por que vocês não fazem suas hortas?


Por: Lilibeth Cardozo

Fonte: folhacarioca.com.br

Muito se discute sobre violência provocada pelo narcotráfico. Muitas também são as defesas ardorosas do “um baseadinho não faz mal nenhum” e lá se vai correndo solto na hipocrisia de comprar maconha, ser usuário “social” (existe isso?) e cair de pau na questão da violência. 


Ando muito saturada de tanta hipocrisia! Enquanto não se descriminalizar o uso da maconha no Brasil, a erva é ilegal, faz dinheiro, alimenta o narcotráfico, coloca milhares de jovens no mundo do crime vendendo a “tão inofensiva erva” que, na voz dos usuários, “não faz mal nenhum”.


Não quero discutir os malefícios das drogas, até porque sou totalmente ignorante nessas questões químicas X dependência. Nem quero intervir no respeito da individualidade das pessoas. Se drogar, com álcool, maconha, cocaína, crack, heroína ou seja lá o que for, é um movimento individual. Sou fumante e bem sei o que faz uma dependência química da nicotina. Mas não compro o danoso tabaco no mundo do crime, do tráfico. Vou lá no bar, na banca da esquina, na tabacaria e compro, pagando impostos, meu maço de cigarros. Se estou me matando, é uma questão absolutamente individual e fumar meu cigarro, embora me destrua, não alimenta uma rede de ilegalidades. Mas deixaria de ser uma questão minha se, para ter meu vício, muitos morressem ou matassem pelo mundo afora. 

Se compro uns gramas de maconha, já alimentei a corrente do narcotráfico, e também é responsabilidade minha saber que quem me entregou a erva não a plantou e faz parte da grande rede. A cada cigarrinho de maconha fumado deve-se ser consciente de que um menino de sete anos pode estar começando seu trabalho de “aviãozinho”; mais um jovem cheio de sonhos de ter dinheiro, posição social e chegar lá, do outro lado da margem do rio, vendendo a droga.Ele está caminhando num terreno acidentado onde muitos atalhos podem levar a outras drogas, ao banditismo, à violência, à dependência e à morte.Não vou advogar a violência contra os usuários de drogas. Não é o caminho. Não vou propor soluções para o narcotráfico, pois não as tenho. Mas não aguento mais conviver com a hipócrita atitude dos usuários da maconha de que “faz menos mal que o cigarro” e impostam as vozes para discutir politicamente as melhores soluções contra o narcotráfico. Vestidos de branco, cantando, empunhando bandeiras de paz, participam de passeatas contra a violência, fumam o baseado que não plantaram e se horrorizam com as toneladas da droga que movem a engrenagem, enriquecem bandidos e donos do tráfico. Certamente condenam os horrorosos crimes do narcotráfico! 

Que se legalize se é tão inócua, mas enquanto for ilegal, que pensem que poderiam fazer uma plantaçãozinha em casa para consumo próprio. Conheço alguns maconheiros assumidos que pegam sua trouxinha do “bagulho” nas mãos do mesmo traficante que, em seu carrão ou carrinho, segue viagem para entregar as outras encomendas de maconha, cocaína, êxtase e crack. E não acham nada demais! Seriam ou não elos na grande corrente do narcotráfico pelo mundo? Se forem pobres de comunidades carentes serão chamados de traficantes. Se forem riquinhos dos bairros ricos da cidade, lógico, serão chamados de “meninos e meninas tendo experiências normais da juventude”. 

O que não dá é ver gente com discurso de sensibilidade política, contra drogas, contra violência, com boas falas sobre diminuir desigualdade social, aumentar ações educacionais e de saúde, fumando seu “bagulho” e dizendo que não faz mal nenhum. Não faz mal nenhum? A ninguém? É o que proponho discutir! É uma discussão complicada, cheia de tabus, tão cheia que este texto vai dar muita briga contra mim.Que seja. Quem sabe, colocando as cartas na mesa, lemos todos os naipes e o jogo fica menos hipócrita?

Quanta hipocrisia! 

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