Espaço público para o debate sobre a maconha
A sociedade é um organismo vivo em permanente transformação. As mudanças acontecem quando velhos paradigmas apresentam-se como comportas que represam seu desenvolvimento. Para se superar o velho é preciso espaço para que o novo surja. Esse espaço é forjado nas ruas e, dependendo de sua força, entra pelos gabinetes adentro mudando as instituições.
A discussão sobre a liberação da produção, da comercialização e do consumo da maconha começa a ganhar espaços públicos. Ela quer sair do âmbito das delegacias e da segurança pública para contagiar acadêmicos, religiosos, políticos e a população. Em momentos como este, a informação de qualidade pode contribuir significativamente para que o debate evolua em direção ao que pode ser melhor para todos. É a busca da solução civilizatória que resolva conflitos latentes que jogamos para debaixo do tapete da hipocrisia durante anos.
A Agência Brasil publicou 40 matérias sobre o assunto "maconha" desde o começo deste ano. As principais abordagens foram:
Prisões e apreensões (feitas por forças policiais e pela Receita Federal): 22 (55%);
Decisão do STF e decisões judiciais sobre a realização da Marcha da Liberdade: 9 (23%);
Marchas da Liberdade em São Paulo, Brasília e no Rio de Janeiro: 4 (10%);
Dados globais sobre produção e consumo: 2 (5%);
Debate sobre a liberação: 3 (8%).
Abordar o assunto como caso de polícia (55% das matérias), relatando os fatos de como o Estado tenta reprimir e conter o avanço do uso de entorpecentes, é o tratamento tradicional da imprensa e a história nos mostra que não contribui para a diversidade da informação, não traz e não cria novas abordagens, ou seja, não acrescenta conhecimento sobre o assunto.
Das três notícias que debatem a questão, duas trazem argumentações favoráveis à liberação (*) e uma contrária. Lendo esta última: Procurador diz que liberação da maconha favorece o tráfico e a violência, publicada dia 2 de julho, o leitor Romualdo Rocha protestou: “Espero que sejam oferecidos outros pontos de vista sobre a questão, além deste... Por enquanto, me parece que isso não foi respeitado.”
A ABr respondeu: “Agradeço a sugestão do leitor.”
A resposta da ABr não informou sobre a existência de duas outras matérias cujos conteúdos seriam contrapontos favoráveis à liberação da maconha, publicadas no mês anterior, mas que não foram associadas por meio de links à notícia lida por Romualdo.
Na imprensa virtual geralmente não se esgota um assunto em uma única matéria devido à necessidade de concisão. Por isso liga-se diversas notícias permitindo que o leitor navegue pelo conteúdo publicado aprofundando-se em aspectos de seu interesse. É uma forma de transcender à leitura imediata de uma notícia e aproveitar seu conteúdo multiplicando seu potencial de exposição ao longo do tempo.
Todavia a ausência de links interligando as notícias de uma cobertura é um problema persistente na edição da Agência Brasil, conforme observado em outras colunas neste mesmo espaço.
Se a ABr quiser aprofundar o debate há diversos aspectos que podem ser explorados como, por exemplo: especialistas em neurociências podem contribuir para esclarecer sobre os efeitos químicos e psíquicos; sociólogos e antropólogos podem explicar as razões sociais e comportamentais que levam ao vício; tributaristas podem esclarecer por que o Estado reprime o uso de certas drogas enquanto se beneficia do uso de outras como o cigarro e as bebidas alcoólicas. Assistentes sociais e psicólogos podem analisar o consumo cada vez mais precoce de crianças e adolescentes. As políticas públicas e sua eficácia podem ser verificadas por meio de indicadores, estudos e pesquisas. Usuários e fornecedores também precisam ser ouvidos para se entender a real dimensão da questão.
Assim a Agência Brasil estará contribuindo para se formar cidadãos críticos, com autonomia de pensamento e de decisão.
Texto do Paulo Machado
Ouvidor da Agência Brasil
A Agência Brasil publicou 40 matérias sobre o assunto "maconha" desde o começo deste ano. As principais abordagens foram:
Prisões e apreensões (feitas por forças policiais e pela Receita Federal): 22 (55%);
Decisão do STF e decisões judiciais sobre a realização da Marcha da Liberdade: 9 (23%);
Marchas da Liberdade em São Paulo, Brasília e no Rio de Janeiro: 4 (10%);
Dados globais sobre produção e consumo: 2 (5%);
Debate sobre a liberação: 3 (8%).
Abordar o assunto como caso de polícia (55% das matérias), relatando os fatos de como o Estado tenta reprimir e conter o avanço do uso de entorpecentes, é o tratamento tradicional da imprensa e a história nos mostra que não contribui para a diversidade da informação, não traz e não cria novas abordagens, ou seja, não acrescenta conhecimento sobre o assunto.
Das três notícias que debatem a questão, duas trazem argumentações favoráveis à liberação (*) e uma contrária. Lendo esta última: Procurador diz que liberação da maconha favorece o tráfico e a violência, publicada dia 2 de julho, o leitor Romualdo Rocha protestou: “Espero que sejam oferecidos outros pontos de vista sobre a questão, além deste... Por enquanto, me parece que isso não foi respeitado.”
A ABr respondeu: “Agradeço a sugestão do leitor.”
A resposta da ABr não informou sobre a existência de duas outras matérias cujos conteúdos seriam contrapontos favoráveis à liberação da maconha, publicadas no mês anterior, mas que não foram associadas por meio de links à notícia lida por Romualdo.
Na imprensa virtual geralmente não se esgota um assunto em uma única matéria devido à necessidade de concisão. Por isso liga-se diversas notícias permitindo que o leitor navegue pelo conteúdo publicado aprofundando-se em aspectos de seu interesse. É uma forma de transcender à leitura imediata de uma notícia e aproveitar seu conteúdo multiplicando seu potencial de exposição ao longo do tempo.
Todavia a ausência de links interligando as notícias de uma cobertura é um problema persistente na edição da Agência Brasil, conforme observado em outras colunas neste mesmo espaço.
Se a ABr quiser aprofundar o debate há diversos aspectos que podem ser explorados como, por exemplo: especialistas em neurociências podem contribuir para esclarecer sobre os efeitos químicos e psíquicos; sociólogos e antropólogos podem explicar as razões sociais e comportamentais que levam ao vício; tributaristas podem esclarecer por que o Estado reprime o uso de certas drogas enquanto se beneficia do uso de outras como o cigarro e as bebidas alcoólicas. Assistentes sociais e psicólogos podem analisar o consumo cada vez mais precoce de crianças e adolescentes. As políticas públicas e sua eficácia podem ser verificadas por meio de indicadores, estudos e pesquisas. Usuários e fornecedores também precisam ser ouvidos para se entender a real dimensão da questão.
Assim a Agência Brasil estará contribuindo para se formar cidadãos críticos, com autonomia de pensamento e de decisão.
Texto do Paulo Machado
Ouvidor da Agência Brasil
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